Rio+20 decepciona ao não traduzir discursos para a prática




A conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento sustentável que aconteceu no Rio de Janeiro nos dias 20, 21 e 22 deste mês não alcançou o objetivo esperado.

“Um dos pontos mais criticados pelos especialistas e até por algumas delegações, como Alemanha e Islândia, foi em relação à proteção dos oceanos. O tema foi minimizado no texto final após pressão dos Estados Unidos, Japão e Austrália. Segundo Minc, o documento aprovado apresenta apenas algumas generalidades sobre a preservação da biodiversidade marinha, mas sem propor o controle das águas que estão fora dos limites de cada país. O secretário também destacou que não foi apresentada nenhuma proposta para acabar com os subsídios destinados à produção de combustíveis fósseis, responsáveis pelo aumento nas emissões de CO2.

Para Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças Climáticas e Energia da ONG WWF, um dos maiores problemas é que a conferência não apontou de onde virão os recursos financeiros para custear o desenvolvimento sustentável. "Sem indicar a fonte dos recursos, não tem resultado nenhum". 

Os países que compõe o grupo do G77, que inclui o Brasil, propuseram a criação de um grande fundo para financiar as ações, mas a medida foi vetada por algumas nações ricas. O documento final cita a participação do setor privado, do mercado financeiro, mas não aponta quanto cada nação terá de arcar para garantir as mudanças no padrão de produção e consumo.

Outro fator de grande discussão é a retirada da expressão "direitos reprodutivos", que se refere à liberdade da mulher de decidir se quer ou não ter filhos, do texto final. O tema foi pauta até do discurso da secretária de Estado americana Hillary Clinton, uma das personalidades mais aguardados do evento. "As mulheres precisam ser empoderadas para decidir quando querem ter filhos. Os Estados Unidos vão continuar trabalhando para que esse direito seja respeitado nos acordos internacionais", afirmou ao endossar a crítica das feministas à pressão exercida pelo Vaticano e por países com forte influência religiosa.

Para o diretor do Greenpeace, tudo o que foi feito no Rio de Janeiro na última semana não passa de um discurso vazio. "Se a gente estivesse há 20 anos, quando nem se tinha um diagnóstico bom da situação ambiental, até valeria isso. Mas estamos fazendo a lição de casa a todo esse tempo. Não podemos chegar aqui e apresentar um novo processo burocrático. Isso é muito pouco, a sociedade, não estou falando da sociedade civil organizada, mas da população que sofre os efeitos do desastre ambiental, esperava muito mais", completou.

Contudo, conforme destaca Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, a definição da Rio+20 como um fracasso dependerá muito das ações de cada um de nós a partir de já.”


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