NOTÍCIA
Tropicália engrandece as ideias do Tropicalismo com imagens e depoimentos raros
Deixa-se o cinema com a impressão de que a Tropicália, "uma ilha, uma
utopia", diz Gil – "o ismo era coisa do momento, um movimento", era
muito mais do que se supunha até então. É preciso visitar essa ilha mais
de uma vez para entender a história cultural e política do país.
Caetano Veloso
Tudo o que se imagina sobre a Tropicália, suas cores, sons e ideias, é
ampliado pelo documentário homônimo dirigido por Marcelo Machado. A
começar pelas imagens raras que conseguiu garimpar. À TV portuguesa,
Caetano Veloso e Gilberto Gil decretam o fim do movimento. Naquele
momento, eles estavam a caminho do exílio em Londres, e "a coisa de
adolescente" que era a Tropicália (como diz o próprio Gil) revelava de
repente uma imensa violência, fruto do chumbo pesado que veio com o
AI-5.
Outra raridade é a participação dos baianos no festival de Wight, no
sul da Inglaterra, já exilados, em 1970. Um público gigantesco, de mais
de 600 mil pessoas, então descobre que Caetano, Gil e outros brasileiros
estavam ali para a fazer a música que fora proibida em seu país. O
discurso apaixonado é do agitador cultural Claudio Prado, o mesmo que
convence os organizadores a deixarem Caetano e Gil subirem ao palco. Nem
o próprio Caetano sabia que esse momento tão simbólico tinha sido
registrado. É como uma aula de história, só que dada pelos próprios
protagonistas da história.
Nos dias de hoje, no Brasil, Rita Lee revela seu ódio à música – são
tantas as possibilidades que ela dá e é feito sempre tão pouco que só
cabe odiá-la, explica a cantora. Justo Rita que, com os Mutantes, Gil,
Jorge Benjor, o Divino Maravilhoso, afinal, conseguiu criar algo
totalmente novo, visceral e revelador dos desejos de uma geração, uma
pequena parte dela, pelo menos. Convém lembrar que o Tropicalismo foi
combatido até mesmo nas universidades.
Tom Zé, numa gravação atual, feita especialmente para o documentário,
de repente se levanta, bem no seu estilo performático de ser, e cobre
uma tela com um pano. Assim demonstra como a sombra aniquilava quase
tudo o que se criava em 1967 e 1968.O que sobra, a nostalgia e o
registro histórico, quase tudo, está no documentário. Estão lá as artes
de Helio Oiticica, origem do nome do movimento, o teatro de Zé Celso
Martinez Corrêa e o cinema de Glauber Rocha. E também os disputados
festivais, as críticas mordazes (o trabalho de Machado não é pura
reverência) e a depressão do exílio, nas palavras de quem o viveu.
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