24 de Maio: Dia do Vestibulando



O termo “vestibulando” surgiu na Europa, entre os séculos 12 e 13. Neste período, foram fundadas as primeiras universidades, assim chamadas por se dedicarem aos “temas universais”. O acesso a essas instituições era restrito aos membros do clero e aos indicados pela nobreza. Os alunos iniciantes não tinham permissão de assistir às aulas nas salas com os veteranos, devendo permanecer no vestíbulo — e por isso eram chamados “vestibulandos”.

Durante e após o Renascimento, com o relativo processo de laicização das instituições de ensino, estas passaram a ser procuradas por muito mais pessoas, interessadas no saber e na aquisição de habilidades intelectuais que lhes proporcionassem profissões mais bem remuneradas e respeitadas — e com isso deu-se início a um tipo de processo de seleção de candidatos, visto não haver possibilidade de atendimento a todos.

Desde essa época, os processos seletivos constituem um rito de passagem necessário — e centenas de milhares de jovens a eles se submetem, saindo da adolescência para superar o primeiro desafio da idade adulta.

A época de ingresso no ensino superior é de grande desgaste para os estudantes e suas famílias. Eliminar o concurso vestibular, que pretende avaliar conhecimentos e selecionar alguns candidatos em detrimento de outros, sempre foi o sonho de todos os professores e vestibulandos.

No Brasil, o exame de ingresso foi introduzido na legislação para conter a entrada de estudantes sem adequada formação prévia, como resultado da Lei Orgânica de Rivadávia Correa, de 1911. Todos os candidatos aprovados podiam, portanto, matricular-se. Esta situação se altera sob o governo de Artur Bernardes, em 1925, quando, além de sacramentar o termo vestibular, foi instituído o número máximo de vagas por curso, o que passou a dificultar o acesso.

Em meados da década de 1960, o concurso vestibular efetiva-se como um exame de entrada específico para determinados cursos, com provas diferenciadas, que procuram verificar as habilidades específicas para determinados exercícios profissionais.

O acirramento da disputa pelas vagas, em função da progressiva urbanização e industrialização brasileiras, exige critérios classificatórios mais rígidos, para evitar os denominados “excedentes” (candidatos que haviam obtido a nota para entrada no curso pretendido, mas para os quais não havia vagas disponíveis). Optou-se então pela adoção da “nota de corte”, sistema pelo qual apenas seria considerado aprovado o número de candidatos para os quais houvesse vaga.


Os conhecimentos exigidos tornam-se cada vez mais específicos e aprofundados, transformando as provas em verdadeiras batalhas de memorização. Isso modifica o ensino na escola secundária, que procura trazer a si os conhecimentos exigidos nos processos seletivos — um desastre para o processo de aprendizagem deste nível de ensino, sem aparentemente melhorar o superior.

Assim, fracassando em exames internacionais comparativos de aprendizagem, muitas Instituições de Ensino Superior (IES), de todo o país, repensaram seus métodos de seleção e planejaram implantar outras modalidades de processo seletivo — entre elas, o Processo Seletivo Seriado (PSS), no qual a seleção para ingresso é feita por meio da média obtida pelo aluno num exame ao final de cada ano letivo do ensino médio, privilegiando os estudantes que se dedicam aos estudos durante todo o período escolar.

Atualmente, o PSS vem sendo um pouco “atropelado” pelo Enem, que tem outros pressupostos e tende, aparentemente, a se tornar hegemônico. Com uma proposta interessante - a de eliminar os conteúdos meramente decorados e privilegiar o entendimento, o raciocínio e o poder de argumentação e interpretação da realidade do estudante -, o ENEM tende, porém à bipolaridade: criado para constituir-se em sistema de avaliação da educação brasileira, cada vez tende mais a ser um vestibular, ou seja, uma forma de garantir acesso à educação superior.

Somos um país conhecido pela profusão de propostas pedagógicas — a maior parte delas longe da obtenção de melhoria da qualidade de ensino. Esperamos não nos tornarmos também campeões em novas propostas de acesso, se estas não tiverem a seriedade e cuidado no trato educacional como adendo indispensável. 


* Wanda Camargo, educadora, é assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil).





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